Bolsa de sangue foi enviada para transfusão em uma paciente portadora de fenótipo raríssimo; No Brasil, apenas três doadores são compatíveis
Um sangue com característica específica, pouco frequente na população e, em alguns casos, com traço de característica familiar: o sangue raro é considerado uma preciosidade pelos Hemocentros do país. Isso porque pacientes com leucemia, transplantados de medula óssea e pessoas com anemia falciforme, por exemplo, dependem desse tipo sanguíneo para sobreviver.
Na última semana, o Hemocentro do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Botucatu (HCFMB) foi acionado pela Coordenação-Geral de Sangue e Hemoderivados do Ministério da Saúde (CGSH/MS) para ajudar na procura de uma bolsa de sangue raro para uma mulher em estado grave, que precisava de uma transfusão de sangue na cidade de Teresina – PI.
A paciente é portadora de um fenótipo raríssimo, conhecido como Kell-Null, incidente em maior proporção na população de países como Finlândia, Japão e Reino Unido. No Brasil, apenas três doadores são compatíveis com essa condição, e um deles é doador no Hemocentro do HCFMB. Após o contato, o Hemocentro acionou o doador, que prontamente atendeu ao pedido e fez sua doação de sangue. O Centro de Hematologia e Hemoterapia do Piauí (Hemopi) providenciou a retirada da bolsa de sangue, que foi no mesmo dia para Teresina e transfundida na paciente.
Gerente do Hemocentro do HCFMB, Andrezza Castro ressalta a importância da doação. “Todo esse processo só foi possível devido a um gesto voluntário e de amor do doador, em sua generosidade em ajudar prontamente o próximo”, diz.
Conhecido como Kell-Null, este tipo de sangue raro é mais compatível com outros tipos sanguíneos por não apresentar os antígenos (substância que quando introduzida no organismo, ocasiona a produção de anticorpos) mais comuns. “Quando uma pessoa faz a doação de sangue, passa por um procedimento chamado fenotipagem eritrocitária, mecanismo que permite identificar mais características além dos conhecidos grupos sanguíneos ABO e RhD — que, juntos, formam o popularmente chamados tipos sanguíneos, como AB positivo ou O negativo, por exemplo. Ao fazer isso, o Hemocentro confere mais segurança às transfusões para pacientes que precisam da terapia transfusional”, explica Dra. Patrícia Carvalho Garcia, coordenadora do Núcleo de Hemoterapia do Hemocentro do HCFMB.
No Brasil, o Ministério da Saúde do Brasil instituiu o Cadastro Nacional de Sangue Raro (CNSR), para o registro do quantitativo de doadores de sangue raro nos Hemocentros públicos do país, no intuito de rastrear a busca de sangue compatível nessas situações especiais, uma vez que encontrar o sangue compatível para atender à demanda de pacientes tem sido um desafio.
Para o doador Rafael Pereira Nogueira, portador do chamado sangue raro, doar é mais que um ato de solidariedade e de amor ao próximo. “Saber que pude ajudar a salvar uma vida, que fiz o bem para alguém que estava precisando e que posso fazer isso até para alguém em outro Estado me deixa muito feliz. Esse sentimento é o que me faz doar, e mais do que isso, incentivar sempre a doação de sangue, seja qual for o seu tipo”.
O Hemocentro do HCFMB é credenciado no CNSR e, além de referência estadual, o serviço é reconhecido nacionalmente na identificação de doadores com fenótipos raros. A identificação é realizada através da busca ativa, por meio dos testes de fenotipagem eritrocitária, que são realizados nas amostras de todos os doadores no Laboratório de Imuno-hematologia do HCFMB.
“O atendimento à demanda transfusional desses pacientes é um grande desafio para os serviços de hemoterapia. Um dos principais objetivos do nosso Hemocentro é encontrar essas raridades e garantir a segurança do procedimento. É um trabalho minucioso que ajuda a salvar pacientes em todo país”, finaliza Dr. Cláudio Lucas Miranda, Diretor do Hemocentro do HCFMB.
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