Em menos de 15 anos, metade da população mundial poderá ter sobrepeso ou ser obesa. No Brasil, este número poderá ser de 41%. As estimativas divulgadas pelo Atlas da Federação Mundial da Obesidade de 2023 trazem um alerta acerca desta condição que pode ocasionar sérios problemas de saúde.
Para se ter uma ideia do avanço da obesidade nas últimas décadas, o Observatório de Saúde Global da Organização Mundial de Saúde (OMS) constatou que, desde 1980, a quantidade de adultos obesos quase triplicou, sem contar o número de pessoas que estão com sobrepeso.
Mas, afinal de contas, como a obesidade pode ser caracterizada? O endocrinologista do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Botucatu (HCFMB), Dr. Adriano Francisco de Marchi Júnior, explica que esta condição ocorre quando há um aumento da massa de gordura em relação à massa magra que, se for freqüente, ocasiona várias complicações.
“Existem graus variados de obesidade e diversas classificações. A que mais utilizamos é com base no Índice de Massa Corporal (IMC), obtido a partir da razão do peso dividido pela altura ao quadrado. Um IMC de até 24,9 kg/m2 é considerado normal e acima de 30 kg/m2 é considerado obesidade. Dentro da obesidade, existem 3 graus, sendo o mais avançado quando o IMC está acima de 40 kg/m2, classificado em Classe III ou Obesidade Grave”.
Quando o IMC oscila entre 25 a 29,9 kg/m2, o indivíduo está com sobrepeso, podendo integrar uma condição chamada Síndrome Metabólica, quando há um crescimento da gordura visceral, a que se instala nos órgãos. “Essa condição pode aumentar o risco de Diabetes do tipo 2, Hipertensão Arterial, Síndrome da Apnéia e Hipopnéia do Sono (interrupção parcial das vias aéreas superiores), além da Esteatose Hepática (gordura no fígado). Se as alterações não forem medicadas, podem acontecer eventos cardiovasculares graves, como infarto, cirrose e AVC”, comenta o endocrinologista.
Em relação aos dados da Federação Mundial de Obesidade, Dr. Adriano comenta quais seriam alguns fatores determinantes para o aumento dos casos de sobrepeso e de obesidade nas últimas décadas. “Dentre outras causas, temos o aumento de consumo de alimentos industrializados (ultraprocessados), a falta de acesso à saúde e à informação, o estilo de vida sedentário, a ausência de políticas públicas especializadas e os mecanismos complexos da obesidade”.
Para tratar desta doença mundialmente crônica, o HCFMB conta com um Ambulatório específico para a obesidade, que funciona todas as quartas-feiras desde 1997. “Atendemos 12 pacientes semanalmente, mas pretendemos ampliar este número em breve. Eles são divididos em grupos e, uma vez por mês, são atendidos por diferentes profissionais”.
A equipe multidisciplinar do Ambulatório é formada por médicos endocrinologistas especializados, residentes de Endocrinologia e alunos de Medicina, além de um nutricionista, um educador físico e um psicólogo. Os pacientes participam de grupos de discussão e partilha, com abordagem multidisciplinar e integrativa e, após algum tempo, passam por consultas individuais. “Os tratamentos realizados no ambulatório são clínicos, com o uso de medicamentos, além de acompanhamento psicológico e nutricional, orientações de atividade física e, dependendo do caso, encaminhamento para a cirurgia bariátrica”, aponta Dr. Adriano.
Os encaminhamentos são realizados a partir da saúde primária, dos postos de saúde e também por avaliação complementar de outras especialidades do HCFMB. “Tratar a obesidade em todos os seus fatores é primordial para a melhora da qualidade de vida”, finaliza o médico.
Como faço para fazer parte desse tratamento?