Além da visão: saiba mais sobre o ceratocone

Um dos sentidos mais valorizados do corpo humano é a visão, pois é com ela que podemos observar a natureza, diferenciar cores e realizar tarefas cotidianas com facilidade, inclusive ler este texto. Porém, existem doenças que podem afetar a visão humana e mudar esta perspectiva, como o ceratocone, lembrado, de forma especial, no último dia 10 de novembro.

Criada em 2016 pela National Keratoconus Foundation (NKCF), a data visa conscientizar e informar sobre esta doença que atinge cerca de 150 mil brasileiros por ano, de acordo com a Sociedade Brasileira de Oftalmologia.

O Diretor Médico do Banco de Olhos do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Botucatu – Unesp (HCFMB), Álvio Isao Shiguematsu (foto), explica que o ceratocone afeta a córnea, tornando-a progressivamente mais fina, curva e irregular, o que faz com que ela assuma uma forma cônica. Essa deformidade compromete a qualidade da visão, pois a córnea deixa de focar a luz de forma adequada.

“As causas exatas do ceratocone ainda não são completamente entendidas, mas alguns fatores de risco são bem conhecidos, como a base genética, o hábito de esfregar os olhos com frequência, doenças oculares como a conjuntivite alérgica e condições sistêmicas, como as Síndromes de Down e de Marfan”.

Visão embaçada, distorcida e/ou duplicada, aumento da sensibilidade à luz e progressão acelerada da miopia e do astigmatismo são os sintomas mais comuns do ceratocone, que pode ser diagnosticado por exames de imagem, como a topografia e a tomografia da córnea, ou avaliações clínicas, em casos mais avançados. “O ceratocone é considerado grave quando há uma perda acentuada da qualidade visual que não pode ser corrigida com óculos ou lentes de contato simples, pois a córnea pode ficar muito fina e irregular. Em alguns casos, isso pode levar a complicações mais graves, como a formação de cicatrizes ou, raramente, a ruptura da córnea”.

O oftalmologista afirma que as formas de tratamento da doença variam conforme a gravidade do caso. “Nos casos leves, o uso de óculos ou lentes de contato pode ser suficiente. Em casos moderados, lentes rígidas podem ajudar. Implantes cirúrgicos de segmentos de anel dentro da espessura da córnea têm uma possibilidade de reduzir a irregularidade e a curvatura acentuada do tecido causados pela doença. Para controlar a progressão, o crosslinking corneano é frequentemente indicado e, em casos graves, com significativa alteração da córnea, pode ser necessário um transplante”.

Para prevenir o ceratocone, uma das orientações é evitar o hábito de esfregar os olhos, especialmente para pessoas com fatores de risco, como histórico familiar, alergias oculares e Síndrome de Down.

Tratamento no HCFMB

Arquivo GCIM

No Ambulatório de Ceratocone do HCFMB, são feitas cerca de 50 consultas por mês, entre casos novos e retornos.

Em dezembro do ano passado, o Serviço de Oftalmologia da instituição realizou o primeiro procedimento com o Crosslinking, aparelho doado ao Hospital a partir do projeto “Calorias que Somam”. Durante cinco dias no mês de outubro, os atletas Clarita Balestrin e Raphael Martignoni pedalaram mais de 400 km entre as cidades de Aparecida a Botucatu e, durante o trajeto, as doações em dinheiro foram realizadas, pela internet, por empresas e pessoas físicas.

Após quase um ano da entrega do equipamento, foram realizados procedimentos de crosslink em 20 pacientes, dos quais alguns foram operados dos dois olhos. “Por isso, salientamos a importância do diagnóstico precoce para que os tratamentos clínicos e cirúrgicos possam retardar o avanço da doença”, encerra Álvio.