A sífilis é uma doença contagiosa, provocada pela bactéria Treponema pallidum e, segundo a Secretaria de Saúde do Estado de São Paulo, o número de diagnósticos de sífilis aumentou 603% entre 2007 e 2013. Já na região de Botucatu, de acordo com dados do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Botucatu (HCFMB), houve um crescimento de 500% nos últimos sete anos. É o que relata o chefe do ambulatório de Moléstias Sexualmente Transmissíveis do Departamento de Dermatologia e Radioterapia da Faculdade de Medicina de Botucatu/Unesp, Hélio Miot.
O número de diagnósticos de pessoas com sífilis entre os doadores de sangue no HCFMB chegou a 0,71% em 2015, sendo detectados 96 casos da doença. Já o diagnóstico entre os exames de sorologia solicitados para o Hemocentro chegou a 29%, sendo que, dos 785 exames realizados, foram confirmados 229 casos.
Miot afirma que a contaminação pela bactéria pode acontecer de três formas: por gestantes contaminadas, que podem transmitir para os fetos, no que é denominado transmissão vertical (sífilis congênita); contato com sangue ou material contaminado e, a maneira mais comum, que é por meio do contato sexual desprotegido ou com mucosas das pessoas contaminadas (sífilis adquirida).
O Ministério da Saúde informa que os primeiros sintomas da doença são pequenas feridas nos órgãos sexuais e caroços nas virilhas (ínguas), que surgem entre a 7 e 20 dias após o sexo desprotegido com alguém infectado. A ferida e as ínguas não doem, não coçam, não ardem e não apresentam pus. Mesmo sem tratamento, essas feridas podem desaparecer sem deixar cicatriz, mas a pessoa continua doente e a doença se desenvolve. Ao alcançar um certo estágio, podem surgir manchas em várias partes do corpo (inclusive mãos e pés) e queda dos cabelos.
Após algum tempo, que varia de pessoa para pessoa, as manchas também desaparecem, dando a ideia de melhora. A doença pode ficar sem apresentar sintomas por meses ou anos, até o momento em que surgem complicações graves como cegueira, paralisia, doença cerebral e problemas cardíacos.
O especialista explica que a sífilis é uma doença que começa na pele/mucosa onde houve o contágio e se espalha praticamente para todos os órgãos do corpo. Com o passar do tempo, a infecção se aprofunda em alguns órgãos como os ossos, o coração e o cérebro. Ele comenta também que testagem para sífilis é procedimento padrão nas consultas de acompanhamento pré-natal e o tratamento da mãe com sífilis é muito eficiente, evitando que a doença se desenvolva na criança.
O médico ainda afirma que a prevenção é a melhor opção para evitar a sífilis e outras Doenças Sexualmente Transmissíveis (DST’s), incluindo a Aids. “A principal causa desse aumento no número de casos é a prática de sexo desprotegido, sem o uso de preservativo. O preservativo deve ser usado durante toda a relação sexual em que houver contato com o genital do parceiro, não apenas na hora da penetração”, esclarece. Ele complementa falando que considera um grande equívoco as pessoas julgarem que só correrão riscos de contrair sífilis caso mantenham relações sexuais com prostitutas. “A doença não escolhe o hospedeiro e pode passar despercebida até a fase das complicações. Da mesma forma que se contrai a sífilis, pode-se adquirir outras doenças como Hepatites, HPV e Aids, que têm tratamento mais complexo. Por isso, é fundamental usar preservativos em todas as relações sexuais”, sentencia.
Para fazer o teste de detecção da doença, qualquer cidadão pode se dirigir à Unidade Básica de Saúde (UBS) mais próxima. Caso confirmada a suspeita, o tratamento é gratuito e oferecido pela própria UBS.
O Hemocentro do HCFMB também sofre com a epidemia
Silvio Neves, coordenador do Hemocentro do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Botucatu, comenta que houve aumento expressivo no número de diagnósticos da doença na unidade, que é o órgão responsável pelos testes baseados na sorologia dos pacientes e de doadores de sangue. “Temos acompanhado com muita preocupação o aumento dos casos de Sífilis adquirida (transmitida por via sexual) no Brasil. Com os avanços da medicina no tratamento da Aids, os cuidados que as pessoas tinham na sua prevenção, como o uso de preservativos (camisinhas), foram caindo no esquecimento e outras doenças sexualmente transmissíveis estão tendo um grande aumento. A população não pode alegar falta de acesso aos preservativos, pois todos os serviços de saúde os distribuem de forma gratuita e sem limite de quantidade”, enfatiza.
Neves também comenta que a população tem, a seu dispor, o CTA (Centro de Testagem e Aconselhamento) no Centro de Saúde e Escola de Botucatu. O CTA oferece serviço de caráter sigiloso, que pode ser procurado pela população para orientações e quando houver suspeita de contágio por DST’s. Ele também salienta sua preocupação pela queda de doares de sangue que ocorre em decorrência da sífilis. “O Hemocentro do HCFMB realiza testes extremamente sensíveis para detectar as DST’s e outras doenças. O aumento no número de casos de sífilis entre os doadores de sangue diminui a quantidade de pessoas aptas a contribuir e afeta significativamente o estoque de sangue e outros hemocomponentes do Hemocentro”, alega.
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