Quando se fala em fonoaudiologia, as pessoas rapidamente associam a área a problemas com a fala. Mas a verdade é que esse profissional tem uma atuação muito mais abrangente, que é relevante em todas as fases da vida, desde os primeiros dias, auxiliando as mães a ensinar seus filhos recém-nascidos a mamar, até o acompanhamento de idosos, ajudando na prevenção de complicações decorrentes de doenças da idade avançada.
Segundo o texto da Lei nº 6.965 de 09 de dezembro de 1981, fonoaudiólogo é o profissional, com graduação plena em Fonoaudiologia, que atua em pesquisa, prevenção, avaliação e terapia fonoaudiológica na área da comunicação oral e escrita, voz, audição e deglutição, bem como em aperfeiçoamento dos padrões da fala e da voz. Segundo Priscila Watson, diretora do Serviço de Fonoaudiologia no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Botucatu (HCFMB), a primeira contratação do Hospital das Clínicas de profissionais dessa especialidade ocorreu em 1978, quando o Setor de Otorrinolaringologia contratou uma fonoaudióloga para desenvolvimento de atividades ligadas às áreas de audiologia, linguagem infantil e voz. Posteriormente houve a expansão dessas atividades para os setores de Neurologia e Pediatria. As profissionais ficavam ligadas aos departamentos do HCFMB, prestando serviços exclusivos a cada especialidade a que eram ligadas, porém, em julho de 2014, foi criado um núcleo independente de Fonoaudiologia, que reuniu as 7 fonoaudiólogas contratadas pelo Hospital das Clínicas, otimizando o serviço prestado por elas. À essas profissionais, somam-se mais três profissionais dessa especialidade que atuam no Centro de Reabilitação e Distúrbios da Audição e Comunicação (Cerdac).
Priscila ressalta que a fonoaudiologia se relaciona com diversas especialidades médicas, ajudando-as no tratamento de problemas que envolvem comunicação, audição e deglutição. “Dependendo da doença ou diagnóstico médico, podemos auxiliar em áreas como Otorrinolaringologia, Neurologia, Neurocirurgia, Pediatria, Neonatologia, Geriatria, Clínica Médica, entre outras. A nossa parceria com outras especialidades, formando uma equipe multiprofissional, também é extremamente importante durante os tratamentos, como, por exemplo, quando contamos com apoio de profissionais de fisioterapia, nutrição, terapia ocupacional e psicologia”, explica. As principais solicitações de atendimento são para pessoas que sofreram acidentes vasculares cerebrais (AVC’s), ou têm doenças como Mal de Parkinson ou doença de Alzheimer. Na ala infantil, a maior demanda é de pacientes que têm câncer de laringe, distúrbios de linguagem e aprendizagem e paralisia cerebral.
Segundo Maria Cristina de Abreu (48), empresária do ramo alimentício, a performance dos profissionais de fonoaudiologia do Hospital das Clínicas é bastante humanizada. “Meu filho, Diego Cavassini, sofreu um acidente gravíssimo em 2009 e ficou em coma. Só de internação na UTI foram 58 dias. Ele precisou fazer uma traqueostomia e a Priscila Watson o acompanhou desde então, porque ela é fonoaudióloga especializada na parte de deglutição. Ela esteve presente durante a internação dele e também depois, quando ele já estava em casa, me orientando e ajudando a readaptá-lo à sua nova condição. Posso dizer, sem dúvidas, que ela foi fundamental para a melhora do meu filho e também para a minha melhora, porque sempre esteve presente, me ajudando e dando forças. Ela enxergou a pessoa, não somente o paciente, e entendeu que também tinha uma família que precisava ser apoiada para superar aquela fase difícil. Hoje, o Diego está bem melhor do que as expectativas dos médicos e ela faz parte dessa melhora”, comenta emocionada.
Atualmente, o núcleo de Fonoaudiologia do HCFMB atende cerca de 1700 pessoas por mês, somando o Hospital das Clínicas e o Cerdac. As nossas maiores demandas são dos setores de Neurologia adulto, Pediatria e da Otorrinolaringologia. Infelizmente nós não conseguimos atender todos os pacientes externos, porque precisamos de um diagnóstico médico para podermos atuar de maneira segura, mas já estamos estruturando um ambulatório de triagem, para podermos dar uma assistência mais completa para as pessoas que vêm encaminhadas de outros municípios.
A diretora do Serviço de Fonoaudiologia do HCFMB ainda comenta sobre a falta de conhecimento da população sobre as potencialidades do profissional de fonoaudiologia. “Acredito que já aconteceram importantes mudanças sobre o conhecimento e divulgação da atuação do fonoaudiólogo. A própria mídia, com os programas de TV e novelas, tem discutido assuntos como a gagueira, doenças neurológicas, entre outras. As campanhas na internet também ajudam, como por exemplo a famosa campanha “do balde de gelo”, que chamava a atenção para a esclerose lateral amiotrófica. Então essas situações vão trazendo à tona a discussão das questões de reabilitação, mas ainda não se sabe muito qual é a atuação de um profissional da nossa especialidade, como ele contribuí para minimizar esses problemas”, alega.
No início da profissão, houve uma grande demanda pela especialização na fala, o que distorceu o real campo do profissional de fonoaudiologia. “No início, os profissionais tendiam a se especializar na área da fala. Hoje em dia, aqui no Hospital, temos várias áreas de atuação do profissional. Se você pensar no nome – fono, de fala; áudio, de audição e logia, de estudo – tem-se o real campo de alcance da profissão, o estudo e desenvolvimento da fala e da audição”. Ela acrescenta que atuação fonoaudiológica vai muito além da fala e audição e que a Fonoaudiologia está presente em todas as fases da vida do indivíduo.
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