Hepatites Virais: uma epidemia silenciosa

Dia 28 de julho é o dia Mundial de Luta Contra as Hepatites Virais, doenças consideradas por muitos especialistas uma epidemia silenciosa. A hepatite é uma inflamação no fígado, que pode se agravar se não cuidada. Pode ser causada por vírus, bactérias, protozoários, fungos, uso de alguns remédios, álcool e outras drogas, além de doenças autoimunes, metabólicas e genéticas. Alguns tipos de hepatites não dão sinais de existir, ficam camufladas por muitos anos, degradando o órgão e podendo ocasionar cirrose e até câncer de fígado.

Segundo o médico gastroenterologista Giovanni Faria Silva, professor e responsável pela Disciplina de Gastroenterologia Clínica da Faculdade de Medicina da Unesp – Câmpus de Botucatu (FMB) e pelo Ambulatório de Hepatites Virais do Hospital das Clínicas da FMB (HCFMB), só o Brasil tem, em média, 2 milhões de pessoas contaminadas com alguma das tipagens do vírus da hepatite, e muitas delas não sabem que estão infectadas. Só no ambulatório que ele coordena, são de 350 a 400 atendimentos médicos por mês de pessoas que têm a doença.

Adultos acima de 45 anos devem passar pelo exame de detecção

Existe uma orientação da Sociedade Brasileira de Hepatologia e Infectologia, para que todos os adultos acima de 45 anos se submetam ao exame de detecção da doença. O teste pode ser feito em qualquer Unidade Básica de Saúde (UBS). Se o resultado for positivo, o paciente deverá ser encaminhado para ambulatório especifico para confirmação da infecção e tipagem do vírus.

Tratamento será reduzido de 48 para 12 semanas

O tratamento dos pacientes atendidos no ambulatório de hepatites virais do HCFMB tende ficar ainda melhor, pois o Ministério da Saúde anunciou recentemente que vai adotar um novo coquetel de remédios para tratamento das hepatites na rede pública de saúde, que diminuirá o tempo de tratamento de 48 para 12 semanas, além de minimizar as reações adversas pelo uso dos medicamentos. Além disso, o índice de cura da doença nas pessoas tratadas saltará de 40% a 60% para um índice de 90% ou mais.

“Estamos aguardando as novas drogas serem liberadas pelo Ministério da Saúde, possivelmente em agosto. O tratamento será sem Interferon, com altas taxas de cura e mínimos efeitos colaterais. A aceitação do tratamento com as novas drogas será ótima”, explica Silva.
Cuidados simples podem evitar a contaminação pelos vírus da hepatite

As hepatites virais são as mais comuns e as que mais geram preocupação na comunidade médica. Segundo o médico infectologista e professor da FMB/Unesp, Alexandre Naime Barbosa, são atitudes comuns que evitam o contágio. “As principais formas de se evitar a contaminação pelas hepatites virais são: uso do preservativo sexual (camisinha), evitar o compartilhamento de objetos de uso pessoal (escova de dente, tesoura e alicate de unha, brincos, pircieng), evitar o compartilhamento de seringas e agulhas, nunca usar seringas e agulhas não descartáveis, além de cuidados com o tipo de água e alimentos ingeridos”, observa.

Como ocorre o contágio?

Os vírus da hepatite podem ser classificados em A, B, C, D e E. As hepatites do tipo A e do tipo E são transmitidas por consumo de alimentos ou água contaminados, ou por contato direto via secreções. Já nos outros tipos, a transmissão acontece por contato com sangue contaminado, compartilhamento de seringas e agulhas, compartilhamento de objetos de uso pessoal, como alicates e tesouras de unha, escova de dentes, piercings, agulhas de tatuagem, objetos utilizados em cirurgias que não foram esterilizados e sexo sem preservativo. Também pode acontecer a transmissão materno-fetal (de mãe para o filho ainda no útero) dos vírus das Hepatites B, C e D.

Hepatite C atinge 2,1 milhões de pessoas, mas menos 20% têm diagnóstico

Segundo Naime, todas as vertentes da doença preocupam, mas a Hepatite C é a mais delicada. “Todas as hepatites podem ser muito agressivas, mas no Brasil a Hepatite C é a que causa maior preocupação, pois é estimado que cerca de 2,1 milhões de pessoas são portadoras do vírus, mas menos de 20% tem diagnóstico, o que representa um perigo para as pessoas infectadas e que não sabem disso, por evoluírem para as formas mais avançadas da doença”, alerta. O especialista ainda comenta que as hepatites matam milhões de pessoas em todo o mundo, pois os tipos B e C podem levar o doente a desenvolver cirrose ou câncer, caso a doença não seja tratada.

Hepatites A e E têm período determinado e desaparecem sozinhas

Para as hepatites dos tipos A e E, na maioria das vezes nem é necessário o tratamento, pois elas são autolimitadas, ou seja: têm um período determinado e desaparecem sozinhas. Já na hepatite B, a maioria dos casos também é autolimitada, porém cerca de 5% dos infectados desenvolvem a forma crônica da doença, que deve receber acompanhamento médico. Já a hepatite C deve ser tratada e é possível a cura.

Um problema de Saúde Pública, com sintomas nem sempre evidentes

As hepatites são um problema de saúde pública e a população precisa se conscientizar sobre sua prevenção, pois nem sempre os sintomas da doença vão ser evidentes. Conforme esclarece o infectologista da FMB, a população não se cuida por dois principais fatores:

1. Doença Assintomática: ao adquirir o vírus, o paciente não tem qualquer sintoma na maioria dos casos, e infecção passa desapercebida por décadas, tempo durante o qual a lesão hepática vai aumentando, podendo chegar na cirrose.

2. Ausência de Fatores de Risco Óbvios: apesar das vias de transmissão do vírus da Hepatite C serem bem conhecidas, em cerca de 40%-50% das pessoas infectadas não é possível identificar qual a rota de contaminação.

“Fica, portanto, o alerta para que, neste dia Mundial de Luta Contra as Hepatites e em todos os outros dias, as pessoas evitem situações de risco de contaminação e, caso desconfiem que possam ter sido contaminadas, se encaminhem às UBS para fazer o exame para confirmar se tem ou não a doença”, salienta Naime.

4toques comunicação – Assessoria de Comunicação e Imprensa