Julho Bordô – como a mucosite oral pode afetar a vida de pacientes oncológicos

Imagem ilustrativa / Pixabay

Passar por um tratamento oncológico é um grande desafio para milhares de pessoas. As principais formas de tratamento disponíveis, como cirurgia, quimioterapia, radioterapia, terapia alvo e imunoterapia, têm a finalidade de destruir as células tumorais, mas podem ocasionar uma série de efeitos colaterais. O mês de julho é destinado a conscientizar e prevenir um dos mais importantes efeitos causados pela quimioterapia e radioterapia de cabeça e pescoço: a mucosite oral.

Segundo Dr.ª Eliana Maria Minicucci, cirurgiã dentista do Serviço de Odontologia Hospitalar do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Botucatu (HCFMB) e atuante no Ambulatório de Oncologia do Hospital Estadual Botucatu (HEBo) e no Ambulatório de Estomatologia, a mucosite alimentar é um processo inflamatório decorrente do tratamento oncológico que pode afetar todo o trato gastrointestinal (da boca ao ânus), atingindo as mucosas oral e / ou gastrointestinal e acometendo crianças, adolescentes e adultos. “Muitas vezes, o termo mucosite é usado de forma incorreta como sinônimo de estomatite, que também consiste de um processo inflamatório da mucosa oral, mas não decorrente do tratamento oncológico”.

Dados apontam que a mucosite ocorre em 40% dos pacientes submetidos à quimioterapia; de 60 a 85% dos que estão em condicionamento para transplante de medula óssea, de 50 a 54% de crianças e adolescentes e em 100% dos pacientes submetidos à radioterapia de cabeça e pescoço. “Esta incidência vem diminuindo com equipamentos modernos que permitem maior direcionamento do campo de radiação, restringindo a área tumoral”, ressalta.

Como acontece a mucosite?

Dr.ª Eliana Maria Minicucci / Arquivo pessoal

Dr.ª Eliana aponta que a mucosite causada pela quimioterapia pode ocorrer por dois mecanismos: pelo efeito direto de determinadas das drogas nas células da mucosa oral, surgindo os primeiros sintomas no quarto ou quinto dia após a quimioterapia; ou por ação dos medicamentos nas células da medula óssea, acarretando em um quadro de imunossupressão (redução da atividade do sistema imunológico) e o surgimento da mucosite oral, geralmente no 14º dia após a quimioterapia. Já nos pacientes submetidos à radioterapia de cabeça e pescoço, a inflamação é decorrente da ação da radiação diretamente na mucosa oral e/ou nas glândulas salivares e inicia, geralmente, entre o final da segunda e inicio da terceira semana de tratamento.

Os primeiros sintomas da mucosite apresentam feridas semelhantes a “aftas” e que, se não tratadas rapidamente, se espalham por toda a mucosa oral, podendo estender-se para a orofaringe e causar muitas dores. Já no trato gastrointestinal, pode-se manifestar com diarréia e vômitos. “Se não tratada ou diagnosticada em um estagio avançado, a mucosite oral torna-se grave, pois, devido à extensão das lesões, o paciente não consegue se alimentar, podendo haver necessidade de colocação de sondas para dietas, internação e risco de infecção generalizada”, alerta. 

Prevenção e tratamento caminham juntos

Além da conscientização sobre a mucosite oral, a campanha Julho Bordô, criada pelo Colégio Brasileiro de Odontologia Hospitalar e Intensiva, também mostra a importância da fotobiomodulação na prevenção e tratamento. “Se forem utilizadas medicações que causam mucosite oral, iniciamos a fotobiomodulação a partir da primeira sessão de quimioterapia. No Ambulatório de Oncologia do HEBo, o atendimento odontológico é o primeiro a ser realizado, antes mesmo do paciente passar em sua primeira consulta com o oncologista”, explica a especialista.  

Simulação de procedimento por fotobiomodulação

A prevenção da mucosite oral inicia-se com a adequação do meio bucal, com a remoção de todos os possíveis focos de infecções, como cáries e inflamações gengivais, entre outros. Após a coleta do sangue, os casos novos são convidados a receber todas as orientações sobre os efeitos orais da quimioterapia, atividade realizada em grupo. A seguir, há um exame individual e, sempre que possível, há a remoção dos focos de infecções e orientações sobre os cuidados orais, a higiene das próteses e da língua. Pacientes submetidos à quimioterapia e radioterapia de cabeça e pescoço são orientados e examinados individualmente porque as condutas clínicas e os efeitos colaterais são diferenciados para estes grupos de pacientes.

“A mucosite oral pode comprometer a qualidade de vida dos pacientes devido à dor, dificuldade de fala, alimentação e deglutição, algumas vezes com a interrupção do tratamento oncológico. Por isso, campanhas como a do Julho Bordô são importantes, pois ajudam na orientação não só dos pacientes oncológicos, mas de seus acompanhantes que, muitas vezes, são os nossos aliados nos cuidados e prevenção para, assim, proporcionarmos uma melhor qualidade de vida durante o tratamento”, encerra Dr.ª Eliana.