O estudante de gastronomia Gabriel Galante, 30, prepara a cozinha para mais uma aula aos pacientes do Serviço de Atenção e Referência em Álcool e Drogas (SARAD). Os pacientes se vestem adequadamente e olham encantados para a mesa, que já conta com os ingredientes e equipamentos de cozinha que serão usados na aula.
Uma vez por mês, Gabriel realiza o projeto “Malabaristas de facas em um circo de panelas” no SARAD, uma oficina culinária que ensina aos pacientes internados pratos práticos e de custo baixo, para que eles possam aprender e, no futuro, até trabalhar com culinária. “Procuro ensinar pratos e técnicas simples, que eles possam desenvolver depois, fora do SARAD. Na cozinha há muitas áreas a serem exploradas, e os alunos podem seguir vários caminhos diferentes”, afirma.
Há 10 anos, Gabriel começou a trabalhar como cozinheiro e chefe de cozinha. Durante esse tempo, começou a estudar gastronomia. O sonho foi interrompido pelo vício, já que Gabriel se tornou dependente químico no meio do caminho. “Minha carreira foi de droga e cozinha. Sempre quis desenvolver um projeto como esse, mas ele ficou engavetado por questões éticas por muito tempo, já que eu não conseguia ficar limpo”, conta.
Tentando se livrar das drogas, Gabriel foi paciente no SARAD. Durante as sessões de psicoterapia, a psicóloga do SARAD e coordenadora do projeto, Drª Maria Cristina Veloso Macedo percebeu que as habilidades gastronômicas de Gabriel poderiam ajudá-lo no tratamento. “A culinária encoraja a criatividade, diminui a ansiedade e melhora a autoestima dos pacientes. Percebi o dom culinário e a vontade de ajudar do Gabriel. Assim surgiu o projeto”, diz.
Os pacientes internados aprendem a cortar os alimentos, manejar instrumentos de cozinha e o tempo adequado de preparo dos alimentos. Segundo a Drª. Maria Cristina, as aulas só trazem benefícios. “Além de diminuir a ansiedade e melhorar a autoestima, a culinária ajuda muito na diminuição do stress, melhora a capacidade de aprendizado e concentração, estimula a colaboração em grupo e a memorização dos pacientes” afirma.
F.B.B, 27, está internada no SARAD há pouco mais de um mês. “Sou dependente química desde os 13 anos. Aqui, me sinto orgulhosa de mim, pois quando estou sendo tratada, sei que quero parar. Se temos a mente ocupada, conseguimos achar meios de dar valor ao nosso tratamento. Participar desse projeto me deixou muito feliz, pois me senti capaz de aprender a cozinhar”, diz.
Atualmente, além das aulas culinárias na oficina implantada no SARAD, Gabriel estuda, é consultor gastronômico e realiza um projeto social voltado à gastronomia na faculdade, que iniciou após a alta do SARAD. “Para mim, a cozinha salva. A cozinha é dinâmica, tem disciplina. Dentro dela, o paciente se sente valorizado. Já passei pelo que eles passam hoje e, se apenas um deles sair daqui uma pessoa melhor, serei o cara mais feliz do mundo”, finaliza.
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