A última vez que vi o Prof. Rubens foi ao sair de minha sala no HC. Estava atrás de uma imensa caixa de uvas que me entregou dizendo: são pequenas mas muito doces. Dias antes havíamos conversado por um bom tempo, sentados lado a lado naquele mesmo lugar. Falamos do HC, da FMB, de sua cirurgia cardíaca e de seus pacientes que tanto gostava de atender.
Fiquei observando aquele professor com seu jaleco branco que eu conhecia há mais de 30 anos. Foi se afastando devagar, com seu jeito calmo e andar simpático. Ali pensei nas inúmeras vezes que devia ter ouvido alguém falar, como eu falei: fique em casa Professor, aqui é perigoso para o senhor. Ao que ele respondia sorrindo: esta é minha casa e tenho que atender meus pacientes.

Hoje pela manhã deve ter sido um dia especial para o Prof. Rubens por ter reencontrado seu amigo mosqueteiro de tantos anos. Provavelmente também entregou ao Prof. Marcos Augusto outra caixa de uvas dizendo que eram pequenas e doces. E agora sentados lado a lado, colocaram os assuntos em dia. Devem ter falado do terceiro mosqueteiro da cirurgia cardíaca, Dr Reinaldo, que os assistiu em suas partidas recentes. Também devem ter falado do grupo que formaram ao longo do tempo, do Dr. Nelson, do cada vez melhor Dr. Martins, do Dr. Marcelo e seu jovem grupo de cirurgiões do transplante cardíaco, Dr. André e Dr. Leonardo e de tantos outros que por eles passaram, aprenderam e se foram sem esquecê-los. E do alto de onde estavam, olharam para o HC e, admirados com tanta gente e tantos carros, pensaram, orgulhosos, naquilo tudo que ajudaram a construir.
O Prof. Rubinho foi mais um dos pioneiros que aqui plantaram suas jovens vidas, construindo um hospital imenso e solidário. Fazem parte de uma geração que optou por Botucatu e em Botucatu ficou. Gente admirável e inesquecível cuja história nenhum vírus maldito vai conseguir destruir.
Texto escrito pelo Superintendente do HCFMB, Dr. André Balbi, em homenagem ao professor Rubens Ramos de Andrade, docente voluntário do Departamento de Cirurgia e Ortopedia da FMB|Unesp e médico do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Botucatu (HCFMB), falecido na última quinta-feira, 10 de setembro.
André
Sua mensagem ficou delicada, igual ao anjo que escapou de nós.
Os consertadores de coração resolveram mudar de plano de existência, sem pedir licença.
O terceiro mosqueteiro, recém de volta de experiência em soft science está com as barbas de molho.
Não vamos ter escândalo de luzes neste natal.
Fiquei muito comovida com sua história. Vou publica-la no Portal que temos folhadepiraju.com , um pouco atrasada, porque li hoje apenas, dia 14 de novembro, na área de colunistas. Muito tocante saber que existem e existiram seres como o professor. Foi muito emocionante mesmo.