Nos últimos dias 24, 25 e 26 de fevereiro, o prédio da Central de Aulas da Faculdade de Medicina de Botucatu foi sede da 2ª Capacitação para o Método Canguru, promovida pelo Banco de Leite Humano e pelo Núcleo de Capacitação e Desenvolvimento de Recursos Humanos (
Profissionais de saúde foram convidados para participar deste encontro entre as várias áreas do conhecimento, com o intuito de mudar a visão dos profissionais de saúde em relação ao recém-nascido e, principalmente, ao recém-nascido prematuro (também chamado de pré-termo), que nasce antes de 37 semanas de idade gestacional, segundo a Organização Mundial da Saúde. Além disso, a abordagem do curso visa adequar o manuseio e a abordagem do paciente e da família, de modo a propiciar um desenvolvimento mais próximo ao ideal.
O método possui o nome de canguru, pois consiste em manter o recém-nascido pré-termo ligeiramente vestido, na posição vertical, contra o peito do pai ou da mãe, com um contato pele-a-pele precoce, de forma crescente e por um período de tempo suficiente. Este método traz várias vantagens: estimula o aleitamento materno, contribui para a redução do risco de infecção hospitalar, propicia um melhor relacionamento da família com a equipe de saúde, reduz o número de reinternações, entre outras.
Segundo a médica responsável pelo Banco de Leite, Drª Saskia Maria Wiegerinck Fekete, a importância deste método para a criança está em maximizar os cuidados com o neuro desenvolvimento, propiciando uma evolução mais parecida do que ela teria intra-útero, mais humanizada e menos agressiva. No Hospital das Clínicas, a filosofia do método já é seguida hoje com as instalações e os cuidados dados aos recém-nascidos, respeitando as três etapas do Método Canguru.
“A primeira etapa que ocorre com o paciente internado na UTI neonatal já pode ser implantada. Na segunda etapa do método, precisaremos de um espaço específico para a reinternação de mães e possibilitar a permanência destas 24 horas com o bebê até atingirem um peso e uma maturidade suficiente para ter alta do hospital. A terceira etapa do canguru ocorre em domicílio, supervisionada pela equipe de saúde com retornos freqüentes a unidade de saúde. E muito importante lembrar que, antes de se preocupar com novas instalações, temos que mudar a mentalidade dos cuidadores.”, explica Drª Saskia.
Para os participantes do curso, a forma dinâmica da apresentação do conteúdo permitiu melhor assimilação e vivência dos temas, como relata Paula Marinho, psicóloga do Hospital das Clínicas: “Participar da Capacitação para o Método Canguru foi muito gratificante para toda a equipe. Foi uma experiência profunda de empatia e troca de saberes. O conhecimento adequado para o acolhimento do recém-nascido permite-nos integrar nossa experiência profissional às reais necessidades daqueles pacientes.”
Drª Saskia afirma ainda que há muitas pessoas interessadas em fazer o curso, mas a prioridade, no momento, é treinar a equipe interna do Hospital. “Só abriremos para alunos de outras instituições quando todo mundo da equipe estiver treinada. Os cursos são trabalhosos e demandam uma dedicação minuciosa da equipe de professores, por isso os grupos são pequenos: 12 alunos por curso.”
Em relação à periodicidade dos cursos, a médica relatou também sobre a possibilidade da realização de cursos mensais para que, em um ano, se consiga treinar todos os profissionais do Hospital que trabalham diretamente com o recém-nascido prematuro e sua família: técnicos de enfermagem, enfermeiras, fisioterapeutas, psicólogos, assistentes sociais, residentes, médicos e docentes.
Sobre o Método Canguru
O Método Canguru foi inicialmente idealizado na Colômbia, no ano de 1979, no Instituto Materno Infantil de Bogotá, pelos Dr. Reys Sanabria e Dr. Hector Martinez, com o objetivo de melhorar os cuidados oferecidos ao recém-nascido prematuro naquele país, visando reduzir os custos da assistência e promover, através do contato pele a pele precoce entre a mãe e o seu bebê, maior vínculo afetivo, estabilidade térmica e melhor desenvolvimento.
No Brasil, o método começou a ser reconhecido e adotado a partir de dois acontecimentos importantes: em 1991, a prática começou a ser realizada pelo Hospital Guilherme Álvaro, em Santos-SP, nas enfermarias do Alojamento Conjunto; seis anos mais tarde, o Instituto Materno-Infantil de Pernambuco, hoje Instituto de Medicina Integral Professor Fernando Figueira (IMIP), foi finalista do concurso de projetos sociais “Gestão Pública e Cidadania”, realizado pela Fundação Ford e Fundação Getúlio Vargas, com apoio do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), com a “Enfermaria Mãe Canguru”.
A partir disso, hospitais brasileiros estabeleciam práticas de utilização da posição canguru sem critérios técnicos bem definidos. Em 1999, a Área Técnica de Saúde da Criança, da então Secretaria de Políticas de Saúde do Ministério da Saúde, elaborou um documento que embasaria a Norma de Atenção Humanizada ao Recém-Nascido de Baixo Peso (Método Canguru), aprovada, em definitivo, pela Portaria nº 1.683 do Ministério, de 12 de julho de 2007, oficializando a prática como política pública de saúde.
A norma na íntegra pode ser vista no site da Fiocruz, através deste link.
Maíra Masiero – Assessoria de Comunicação e Imprensa
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