Excelentíssimo senhor doutor Sérgio Okane, Secretário Executivo da Saúde do Estado de São Paulo, aqui representando o Secretário de Saúde Dr. Eleuses Paiva e o Governador Tarcísio Gomes de Freitas, em nome de quem cumprimento todas as autoridades presentes nesta mesa.
Excelentíssimo senhor Dr. José Carlos Trindade Filho, meu amigo de mais de 20 anos e companheiro de gestão há quase 14 anos, em nome de quem cumprimento todos os amigos aqui presentes.
Prezado Prof. Trindade, minha admiração e respeito.
Professores eméritos, membros do conselho do HC, colegas docentes e médicos presentes.
Prezados familiares, boa tarde.
Há exatamente seis anos, eu recebia das mãos do Prof. Emílio Curcelli um imenso hospital para administrar. Imenso não apenas pelo seu tamanho, mas pela sua história e pelo que representa para nós, médicos e docentes que crescemos aqui como profissionais.
Naquele momento simbolicamente terminava a fase da instalação da autarquia, conduzida por ele com extrema habilidade. Caberia a mim, agora, sua consolidação. A autarquização transferiu o financiamento do HC para o Estado, mas manteve os laços de ensino e pesquisa junto a FMB, sua genitora. Tive o privilégio de acompanhar todo este processo, aprendendo com os erros e os acertos que tivemos. As inúmeras dificuldades que encontramos foram meu estímulo para continuar na gestão deste hospital.
Passados seis anos, acredito que voltar a este local pode ser considerada nossa principal conquista. Por vezes duvidei que poderia estar aqui hoje transmitindo a direção do HC ao meu sucessor, Dr. José Carlos no tempo e com as regras que o Conselho, órgão máximo desta autarquia, definiu. Agradeço ao secretário Dr. Eleuses e ao nosso governador Tarcísio de Freitas por este grande exemplo de respeito ao HCFMB, esta instituição que sempre teve e continuará tendo a democracia como seu guia básico e imprescindível. Repito o que já disse muitas vezes: O HC é nosso, sempre foi e sempre será.
Estes seis anos foram marcados pelo repasse irregular e insuficiente de recursos financeiros pela SES aliado ao crescimento da demanda assistencial e pelo inesperado, inacreditável e longo período da pandemia, pior momento vivido pelo HC em toda sua história, e no qual estive a frente, sem imaginar que isto aconteceria. Este cenário dificultou o crescimento que havíamos planejado. Mesmo assim, avançamos muito em vários sentidos a partir de uma necessária e essencial organização interna de gestão.
Durante nosso mandato de seis anos, conseguimos nos três anos iniciais, fazer o HC pertencer aos seus servidores e chamá-lo de “gigante que não dorme”, pela sua importância e sua capacidade de atendimento praticamente ilimitada. Este gigante soube enfrentar a pandemia que se seguiu nos dois anos seguintes como um verdadeiro gigante, atendendo a todos os pacientes que nos procuraram. Nenhum paciente que nos procurou deixou de ser atendido ou foi encaminhado para outro hospital. Neste período lutamos muito pela vida, a nossa, as dos nossos parentes e amigos queridos e de nossos pacientes. Vimos morrer jovens em série e famílias inteiras sendo dizimadas, como em uma guerra contra um inimigo invisível. Neste cenário, a união das instituições próximas de nós foi fundamental.
Juntos, mas sem citar nomes pela importância de todos, HC, FMB, Unesp, Famesp, DRS VI, Prefeitura de Botucatu e Prefeituras da região, conseguimos vencer esta etapa tão triste para todos nós. Porém as marcas da pandemia nunca serão esquecidas por quem viveu naquele período. Infelizmente, toda esta união ficou enfraquecida no ano passado, o ano pós-pandemia em que os desencontros das palavras nos expôs e exigiu de nós o máximo de compreensão das limitações humanas.
Sempre acreditei que a boa assistência é o condutor principal de uma boa pesquisa e um bom ensino e que a gestão permeia estas variáveis. Por isto adotamos, desde o início deste mandato, medidas que possibilitaram atender nossa enorme demanda assistencial. Não vou citar números impressionantes que produzimos, pois não é necessário. Quem vive no HC e vive o HC sabe das grandes conquistas que tivemos, das mudanças profundas que ocorreram e dos novos serviços que surgiram. Peço que cada um relembre um pouco deste tempo que passou, o que evoluiu e o que melhorou em seu local de trabalho e o quanto sua vida mudou. E tudo o que fizemos só foi possível devido ao imenso envolvimento dos servidores e do corpo clínico do HC. Nosso orçamento é um dos menores das autarquias do Estado, mas nossos resultados são expressivos, o que prova nosso respeito com o dinheiro público.
Faço aqui um agradecimento especial para a Prof. Titular Érika Ortolan, que com sua equipe revolucionou a assistência prestada por este HC enquanto diretora. A minha amiga Érika, minha enorme admiração e respeito por sua incansável dedicação.
O HC vive hoje dias semelhantes aos que vivia quando assumi sua direção. Faltam leitos e sobram filas, frutos de uma política de restrição de contratação de recursos humanos. De modo semelhante ao que ocorre com outros hospitais autárquicos, nosso HC enfrenta a dura realidade de ter seus leitos reduzidos. Não podemos aceitar mais esta situação. E se a gestão Estadual anterior não conseguiu resolver esta questão, tenho certeza que a atual, liderada pelo Dr. Eleuses e Dr. Sérgio saberão como resolvê-la. Temos um HC pronto para vôos muito altos, mas nos falta a tripulação.
E entre tantas parcerias que fizemos por necessidade ou por opção, destaco a mais constante, importante e duradoura, que foi a que realizamos com a FMB e com a Famesp. Muitas vezes nos amparamos uns aos outros defendendo nossas ideias e nossas instituições. Nas vezes que discordamos defendendo diferentes pontos de vista, procuramos o consenso, sempre procurando soluções para os grandes problemas que enfrentamos. Em nome da Prof. Kika, Diretora da FMB e do Prof. Rugolo, Presidente da Famesp, agradeço a todos que trabalham nestas instituições nos auxiliando.
Não tenho dúvidas, Zeca, que você fará uma grande gestão pois, além de competente, você está acompanhado de pessoas que nos ajudam muito como o Dr. João Henrique, meu diretor financeiro e agora seu Chefe de Gabinete. Sei que, ao ouvir o Dr. João, você terá mais chances de acertar do que errar. Mas não tenha dúvidas que será um período difícil. Dirigir o HC de Botucatu é como mergulhar em um mar revolto com poucos períodos de calmaria. É necessário equilíbrio constante e dedicação exclusiva. É preciso calma e capacidade de agregar e não dividir. Temos condições de fazer deste HC aquilo que imaginamos e o que ele merece. Um grande hospital público, eficiente, organizado, humanizado, acolhedor e solidário.
Sei que fizemos muito pelo HC nestes anos. Sei também que fizemos muito mais do que poderíamos, mas muito menos do que gostaríamos. Também sei que o que fizemos foi com o auxílio de muitos colaboradores que acreditaram em nossas ideias, nossas ousadias, nossas propostas e tornaram-se nossos amigos. Não tenho a ilusão da unanimidade e nem a necessidade de imposição de uma opinião que não seja consensual. Sempre busquei o consenso. Procurei dar voz a muitos dos então anônimos do HC que, através de sua competência, souberam ocupar um lugar de destaque nesta gestão, dividindo comigo muitas ideias, críticas, crises, vitórias e derrotas. Diretores, tenham certeza que realizamos uma grande e histórica viagem de seis anos. Obrigado pela companhia, confiança e apoio. Em nome de vocês, dedico a Érica, minha secretária de tantos anos, a metade inicial deste mandato. Obrigado Érica pelo porto seguro que você foi para mim durante todos estes anos que trabalhamos juntos.
Por fim, dedico a outra parte deste mandato aos meus três filhos (Henrique, Guilherme e Duda) e a Daniela, minha esposa, cuja preocupação e cuidados comigo possibilitaram que eu chegasse até aqui, mesmo com todas as dificuldades que foram colocadas na minha frente. Vocês traduziram de fato e de modo definitivo o significado das palavras confiança e amor.
Há seis anos terminei meu discurso de posse citando o poeta Mário Quintana e seu poema Esperança, menina de olhos verdes que renasce a cada ano. Hoje ainda acredito nela e sei que ela está renovada. E quando me pergunto se valeu a pena ter vivido estes anos no comando do HC, sei que a resposta não poderia ser outra. Se conseguimos dar chances de crescimento profissional a quem tinha condições de crescer mas não tinha voz, se conseguimos ampliar e melhorar nossa infraestrutura hospitalar para atender nossa demanda assistencial, se conseguimos humanizar um pouco mais nossas relações, se aprendemos mais sobre solidariedade e compreendemos que ouvir é mais importante do que falar e, principalmente, se conseguimos entender que nada ou ninguém são maiores do que este hospital, então valeu a pena.
Tarefa cumprida! Ciclo fechado! Muito, muito obrigado à todos.
Texto escrito pelo Prof. Titular André Luis Balbi, Superintendente cessante do HCFMB, e lido em seu discurso na Cerimônia de Transmissão de Cargo de Superintendente ao Prof. Dr. José Carlos Souza Trindade Filho, em 3 de março de 2023.
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