O protagonismo de Botucatu

Prof. Pasqual Barretti

Pasqual Barretti

Domingo será um grande dia em Botucatu: o dia da segunda dose da vacinação em massa, projeto pioneiro e ímpar em todo o mundo, que visa dar enormes e importantíssimas respostas sobre a pandemia. Uma pesquisa que será acompanhada e trará, no futuro, muitas respostas para a humanidade. Além de ser um marco do enfrentamento da Covid, é uma vitória da nossa cidade.

Só posso demonstrar meu orgulho e satisfação de fazer parte deste time – como professor e, hoje, como gestor – ao ver a Unesp em parceria com uma importante universidade, uma das mais importantes do mundo: a Universidade de Oxford, além de vários outros parceiros. As pessoas dizem que é um estudo da Astrazeneca, mas é um estudo da vacina da Fiocruz, anteriormente fornecida pela Astrazeneca. A Fiocruz, em breve, terá autonomia para produzir totalmente a vacina no país.

Como Reitor da Unesp, ver a nossa universidade envolvida nesse tipo de projeto de absoluta excelência do ponto de vista e critérios científicos, mostrando a grandeza das unidades que estão em Botucatu – entre elas a Faculdade de Medicina (FMB | Unesp), de onde sai o pesquisador Prof. Carlos Fortaleza, idealizador do projeto; cito o Hospital das Clínicas, que jamais será esquecido como unidade da Unesp e palco importante desse projeto; a Faculdade de Ciências Agronômicas e a nossa Famesp, é gratificante.

Ressalto também a importância de, um dia, ter sido instalado em Botucatu um curso de Engenharia de Bioprocessos: através dele, ganhamos dois grandes presentes, que são o Prof. Jaime e a Prof.ª Rejane, protagonistas desse projeto.

Botucatu foi escolhida por ser uma cidade ímpar e por ter um parque de possibilidades científicas inigualável. Temos um Hospital universitário que é uma instituição de pesquisa de altíssimo nível, com um Laboratório de Biotecnologia dentro de sua estrutura, um Hemocentro revitalizado e um grande investimento do Estado de São Paulo para que, ao longo de décadas, tudo isso fosse montado na cidade. Então, esse é o grande protagonismo da Unesp e um grande critério: se não houvesse a Unesp, não haveria estudo.

Não podemos disputar quem tem mais protagonismo. Temos um Prefeito e um Secretário de Saúde que lutaram incansavelmente, que mantiveram esse desafio aceso o tempo todo e foram exemplos para o Brasil no enfrentamento da pandemia. Uma cidade que testa todo mundo, que testa os contactantes, que tem um programa de monitoramento extremamente ativo: só isso torna possível, por exemplo, uma das perguntas do estudo que é: reduzimos, com a vacina, a transmissão desta cepa predominante em Botucatu, que é a gama do Sars-Cov-2? Este critério não seria possível sem a excelência da Prefeitura e da Secretaria Municipal de Saúde.

Outro critério é que temos uma Fundação que, neste ano, completa 40 anos. Foi a 1ª Fundação da Unesp que foi facilitadora para que as pessoas pudessem ser contratadas. E também possibilitou a ativação do primeiro centro de sequenciamento do interior de São Paulo que faz parte, hoje, da rede da Secretaria da Saúde. Se Botucatu não fizesse genotipagem e também onetipagem, que acontecem no laboratório do Prof. Jaime e da Prof.ª Rejane, não teríamos pesquisa.

Então Prefeitura, HC, Famesp, Faculdade de Medicina são verdadeiros protagonistas, é inútil dizer quem é o grande protagonista. Diz o nosso Prefeito que isso é uma obra de Deus. Como eu tenho dito para os que creem, o homem está atuando nesse momento como se Deus fosse ou Deus está atuando pelas mãos do homem. Ou seja, é uma discussão absolutamente inútil: é realmente uma obra divina, seja ela do homem ou de Deus.

A queda do número de casos mostra a efetividade e a eficácia da vacinação. Isso é a importância do estudo, porque ele traz, além de segurança para nossa população, um grande desenvolvimento científico, respostas importantes acerca de efeitos colaterais, transmissibilidade e eficácia em uma população de mundo real, de 80 mil pessoas. O estudo traz esperança e otimismo para a nossa população, que sofreu muito durante este quase 1 ano e meio de pandemia.

As expectativas são as melhores possíveis: será um estudo histórico, publicado nas melhores revistas do mundo. Deste modo, no meio científico, a nossa Universidade, nossa FMB estarão absolutamente com a justa e merecida relevância que sempre tiveram, particularmente agora.

Acredito que a 2ª etapa da vacinação no Dia dos Pais é um momento histórico. Aproveito para conclamar a todos que se vacinem, que não acreditem em fake news, que não haja o negacionismo, porque uma das grandes vantagens deste estudo é o combate aberto ao negacionismo que, infelizmente, tomou conta do país – em particular, no início da pandemia.

Porém, tenho que fazer uma consideração: nas últimas semanas, tivemos um aumento do número de casos nos Estados Unidos e na Austrália. Isso significa que as medidas de proteção individual e coletiva continuarão existindo. Nós não podemos achar que a vacina é a solução para o contágio de maneira definitiva: ela é uma estratégia, evita mortes – isso é o mais importante -, evita sobrecarga de internação na UTI. Nós temos a possibilidade de adquirir Covid mesmo vacinado, se não tivermos os cuidados devidos.

Aconteceu nos Estados Unidos, país mais avançado em vacinação em massa no mundo, quando teve a péssima ideia de abolir o uso de máscaras. Temos que ter muita prudência para que isso, construído com tanta luta do poder público municipal, da Unesp e do HC, realmente seja efetivo de modo definitivo. Obviamente que, se esse vírus continuar fazendo parte de nossa realidade, eu imagino que teremos vacinação anual como toda e qualquer virose e que as medidas de proteção individual e coletiva devem continuar, como evitar aglomerações.

De qualquer maneira, é um momento de muita alegria, de muita honra da minha parte, e quero deixar aqui dois grandes cumprimentos: um ao grande SUS, maior exemplo de inclusão social da história do país, que é um sistema tão injustamente criticado pelo que ele não consegue fazer, mas tem que ser enaltecido porque algumas coisas só o SUS tem condição de fazer, e essa é uma delas (assim como transplantes, hemodiálise, tratamento da AIDS).

Também queria enaltecer a importância dos hospitais universitários no Sistema Único de Saúde – há quem negue isso – os Hospitais universitários tem que ser hospitais de ensino, não é o que prevê a Constituição da República Federativa do Brasil. Os Hospitais Universitários tiveram importância fundamental no enfrentamento da pandemia, reconhecida inclusive em atas do Tribunal de Contas do Estado de São Paulo.

Então eu, em nome de todos os Hospitais Universitários, como membro de seu corpo clínico, dou meus cumprimentos aos guerreiros do Hospital das Clínicas que, mais uma vez, mostra o quanto ele é importante para a nossa região e para o nosso país.

Prof. Pasqual Barretti é médico, ex diretor da FMB e atual reitor da Unesp.