Um movimento para a construção do futuro

Prof. Caldas

2021 foi o ano em que a ciência, com o rigor de métodos e ações,exibiu sua potência no enfrentamento de problemas, aflijam eles a humanidade ou uma pessoa singular. A Covid-19, em meio a tantas tragédias, demostrou isso.

Uma das marcas diferenciais dos humanos, desde sempre, é a capacidade de “viver o futuro”, por antecipação imaginária, buscando influenciar o rumo dos acontecimentos. No entanto, apenas há algumas décadas, este processo passou a se valer da ciência, com referencial teórico e práticas bem constituídos. Assim nasceu o PLANEJAMENTO.

 Vindo de uma árdua e heroica batalha contra a Covid-19, lastreada nos mais modernos avanços da CIÊNCIA, a alta direção do Hospital das Clínicas resolveu valer-se dela, para dar um salto de qualidade em seu processo anual de planejamento. E buscou seus fundamentos na sapiência de Carlos Matus, prócer do planejamento estratégico latino-americano.

Neste diapasão, a IV IMERSÃO do HCFMB (Planejamento 2022), teve início em meados de outubro, guiada por alguns fundamentos científicos:

1. que PLANEJAR não é predizer nem determinar o futuro, mas sim explorar “possíveis históricos”, escolhendo caminhos oferecidos pelo presente e passado;

2. que o PLANOlonge de ser uma mera “peça cartorial” deve constituir-se como um guia efetivo das ações reais, cotidianas, da organização como um todo e de cada um de seus membros;

3. que, para tanto, deve resultar de uma ELABORAÇÃOPARTICIPATIVA, do esforço coletivo do grupo em processos de debate, negociação e pactuação;

4. que, na vida real e nas instituições, dialeticamente, “TUDO SE RELACIONA”;

5. que o planejamento se processa e efetiva em MÚLTIPLAS DIMENSÕES: administrativa (metas administrativas e de produção), política (escolhas, disputas e tomadas de decisão) e ideológica (inculcação e legitimação).

Assim começamos o processo: o longo e dedicado “EXERCÍCIO DO PLANEJAR”.

No PRIMEIRO MOVIMENTO, de expansão, cada departamento, diretoria e setor, buscou recuperar seus “antecedentes históricos”, planos em andamento, observando o que foi alcançado ou não e se perguntando: “por que não foi?”. Mais ainda: o que nos incomoda e, afinal, onde queremos chegar em 2022 e nos próximos anos? O que nos impede de avançar? Quais problemas devemos enfrentar e quais as OPERAÇÕES devemos empreender para chegar a suas raízes. Não bastava “prescrever ações”, dizer o que fazer, mas também “COMO FAZER” e se perguntar: É VIÁVEL, depende de quem, quem ajuda, quem se opõem? Há dificuldades, facilidades? Quem vai executar e comandar? Estas “mil” indagações foram debatidas e respondidas por centenas de dirigentes e servidores, em muitas dezenas de produtivas (e quase infindáveis) REUNIÕES.

Um RETRATO estrutural e situacional de nosso HC. Tudo consolidado numa coleção de preciosas PLANILHAS. Da leitura atenta de todo este material, saltaram aos olhos, transbordaram alguns EIXOS TEMÁTICOS, que percorriam, perpassavam transversalmente as diferentes áreas administrativas e assistencial de nosso COMPLEXO hospitalar:

1. Espaço físico, obras e infraestrutura

2. Informática e desenvolvimento tecnológico

3. Recursos humanos (gestão, quadro, política salarial, desenvolvimento e educação permanente)

4. Comunicação (externa, interna e processos dialógicos)

5. “Compliance” e gestão da qualidade (assistência integrada e fluidez dos processos de trabalho)

O SEGUNDO MOVIMENTO foi de concentração. Sobre estes eixos temáticos debruçaram-se, mergulharam (afinal, era a apoteose da IMERSÃO), dirigentes e gerentes do Hospital, em três dias de intensos debates, em produtivas reuniões em grupos e plenárias de onde emanavam os DESAFIOS A SEREM SUPERADOS EM 2022, em clima participativo e de pactuação solidária.

Para 2022, resta o principal: o FAZER! O momento da imprescindível operacionalização do plano, momento sem o qual nada que veio antes teria sentido. O PLANO como um guia para a ação, para que nas contendas do cotidiano, nas lides da vida real, com suas surpresas e inflexões, possamos avançar, dosando improvisação e plano, para que este permanentemente recalculando, sempre prevaleça, e os problemas estratégicos do HC-FMB sejam superados, pelo bem do SUS e da saúde do povo brasileiro.

Antonio Luiz Caldas Junior é médico, professor do Departamento de Saúde Pública da Faculdade de Medicina de Botucatu (FMB) e coordenou a IV Imersão do HCFMB neste ano.