Pasqual Barretti
Sempre é bom lembrar da autarquização e da importância que ela teve para o nosso Hospital das Clínicas, para a Unesp e para a Faculdade de Medicina de Botucatu.
Para mim, foi uma oportunidade ímpar participar do processo de autarquização. Em 2001, eu acabara de assumir a gestão do HCFMB com o então reitor da Unesp Professor Trindade, que não via outro caminho para o HC que não fosse o financiamento pela área da saúde. Nos entusiasmamos muito com a ideia. Foi importante ter participado e sentido como era difícil a gestão do Hospital.
A gestão do Dr. Rugolo, seguida pela do Dr. Emílio, foi uma luta muito grande e nos mostrou muito o pensamento das pessoas. A Universidade teve dúvidas e houve muita relutância. Em um primeiro momento, não fomos bem sucedidos: a FMB não queria e achava o processo muito arriscado – Dr. Macari, reitor da Unesp na época, acabou mudando de ideia, como pessoa inteligente que era, devida à nítida dificuldade de financiamento dentro de um orçamento de uma Universidade tão grande, voltada para educação e pesquisa. Digo que foi uma das experiências mais importantes da minha vida, onde eu e a professora Marilza começamos essa jornada, e nos seguiram o professor Sergio Muller, Dr. Rugolo e Dr. Emílio, com um grande impulso do Dr. Barradas, Secretário da Saúde da época, que foram em frente e não abandonaram essa causa.
Eu via o processo de autarquização como uma grande oportunidade de tentarmos nos aproximar do financiamento do HC de Ribeirão Preto, que contava com uma estrutura muito semelhante a nossa, com uma gestão mais autônoma. Tínhamos em Botucatu dificuldades enormes de custeio: para se ter uma ideia, 70% do custeio do HC era fonte SUS, e hoje, isso se inverteu, sendo hoje a maior parte do custeio do HC do Governo do Estado.
Apesar de entusiasmado, sabia das dificuldades. Mas, na vida pública, é muito importante não abandonar as boas causas e as boas ideias. Eu entendia que este realmente seria o caminho, e tinha a absoluta certeza que nós não estávamos equivocados ao entrar nessa batalha.
O processo de conscientização sobre a nova questão conceitual e sobre as novas estruturas não foi fácil. Encontramos obstáculos, mas hoje, vejo que valeu muito a pena, e o resultado, considero altamente positivo.
As melhorias são evidentes: ainda que, em março de 2015 o Governo de São Paulo tenha suspendido as contratações e os concursos públicos praticamente até hoje, conseguimos algumas reposições. Isto foi um avanço, apesar do problema de RH ainda não estar resolvido. A infra estrutura hospitalar e a gestão do custeio são notáveis: hoje, o Hospital não tem praticamente problema de custeio, mas sim de RH – precisamos contratar mais profissionais.
Para se ter uma ideia, antes da autarquização, a parte que representava o Hospital no orçamento da Unesp girava em torno de 40 milhões de reais. Hoje, o valor do custeio do HCFMB é cinco vezes mais que isso.
O novo Ambulatório de Especialidades do HCFMB, inaugurado há dois anos, é considerado pela Secretaria da Saúde como um dos prédios mais bonitos e bem montados do Brasil para atendimentos ambulatoriais. A evolução do parque tecnólogico, o novo equipamento de ressonância, o Serviço de Transplantes – tudo o que se faz hoje no Hospital tem uma qualidade técnica muito maior.
Como ex-diretor da FMB, digo que minha gestão foi muito tranquila, já que a preocupação com o HC não era a mesma da gestão do Prof. Sérgio Muller. Vimos a evolução que a autarquia proporcionou ao longo dos anos. Foi ótimo consolidar o trabalho com o HC nesta nova configuração.
Como reitor da Unesp, digo que o HC nos orgulha. Não só pela assistência à saúde (sempre de alta qualidade), mas por todas as possibilidades que este Hospital nos dá todos os dias. O estudo que contemplou a vacinação em massa em Botucatu é, com certeza, um dos maiores projetos de pesquisa da história, que não seria possível sem um hospital com um Laboratório de Biologia Molecular, como o HC tem. Hoje sim, a Unesp e a FMB podem se orgulhar que, em seu Hospital, não se faz só assistência de ótima qualidade: também se faz pesquisa, inovação e desenvolvimento. Como reitor, repito: o HCFMB é grande orgulho para todos nós. Todos sempre se lembrarão do bom e velho HCFMB.
Aproveito para cumprimentar os guerreiros deste hospital, os profissionais da saúde que participaram e participam do dia a dia no combate a pandemia da COVID-19. Vocês são verdadeiros guerreiros. Estendo aos alunos, residentes e estudantes que tem atuado de modo muito cidadão. Deixo aqui todo apoio e o orgulho da Unesp em ter feito parte dessa história.
Prof. Pasqual Barretti é médico, ex diretor da FMB e atual reitor da Unesp.
Comentários