O paciente crítico, por definição, é um paciente que sofre agressões de etiologia variada, que levam a múltiplas e concomitantes repercussões, sendo a disfunção de múltiplos órgãos e óbito o seu destino final, caso não exista nenhuma intervenção.
Inicialmente a forma de conter esses danos e permitir que o individuo tivesse chance de sobrevivência foi diretamente proporcional à capacidade de substituir as funções comprometidas até que o todo se recuperasse.
A primeira Unidade de Terapia Intensiva foi criada em 1927 pelo neurocirurgião Walter Dandy, em Boston, USA. Em 1928, surge o primeiro ventilador mecânico, o ironlung: um grande tubo de pressão negativa no qual o indivíduo ficava completamente inserido para permitir a continuidade dos movimentos torácicos que garantiam a entrada de ar nos pulmões.
Em 1943, chega a vez dos rins e o holandês Willelm Johan Kolff cria uma máquina para hemodiálise. Passam-se algumas décadas e, em 1982, o Dr. William Devries implanta o primeiro coração artificial – o paciente sobreviveu por poucos meses e, hoje, existem dispositivos externos e portáteis.
Mas substituir funções orgânicas e não avaliar seu funcionamento não basta. O maior alicerce do tratamento intensivo é a adequada, minuciosa, atenta e ininterrupta monitorização das funções vitais, para que a intervenção necessáriaàquele indivíduo extremamente fragilizado seja precoce, precisa e eficaz.
E, assim, vieram a eletrocardiografia contínua, a oximetria de pulso, o cateter de Swan-Ganze e, nessa última década, o ultrassom para monitorarmos a condição hemodinâmico-circulatória.
Eventos neurológicos contam com monitores de pressão intracraniana que tradicionalmente foram instalados dentro do crânio e hoje, graças à pesquisa do físico brasileiro Sérgio Mascarenhas temos um método não invasivo para tal já reconhecido pela literatura.
Os ventiladores, então, evoluíram tanto que o mesmo aparelho que enche os pulmões de ar monitora seu funcionamento através de gráficos e cálculos que há cerca de 10 ou 15 anos fazíamos manualmente. Isso sem contar com avaliações laboratoriais e exames de imagem, tecnologia extra-UTI que também faz parte do arsenal de recursos para o cuidado do paciente grave.
E assim se faz a rotina do Intensivista: lançamos mão de toda tecnologia disponível, diuturnamente, nas 24 horas do dia, buscando identificar qualquer alteração orgânica a ser corrigida de imediato para que aquele “amor de alguém” – como se costuma dizer aqui no HC – tenha a maior chance de voltar pra casa.
Dr.ª Patrícia Maria Sales Polla é médica intensivista e Chefe do Serviço de Terapia Intensiva (SETI) do HCFMB
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