Saúde mental na pandemia

Cristiane Lara Mendes Chiloff

por Cristiane Lara Mendes Chiloff

Em janeiro de 2020, a Organização Mundial de Saúde (OMS) anunciou o surgimento de uma nova doença – COVID – 19, que poderia espalhar-se por todo o mundo. Rapidamente a doença disseminou-se e, em março do mesmo ano, a OMS notificou que já se tratava de uma pandemia. Dentre as inúmeras áreas que, necessitavam de cuidados, logo destacaram-se o imenso sofrimento psicológico das pessoas de todo o mundo, com consequentes alterações psiquiátricas que rapidamente apresentaram aumento de frequência e gravidade expressivas.

O distanciamento social, fundamental para o combate à pandemia, passoua trazer alterações no padrão de relacionamento com familiares, amigos, escola, trabalho, exigindo uma nova forma de viver em sociedade.  Rapidamente também passaram a ocorrer redução de renda e desemprego, somando-se às intensas preocupações e medos em relação a contrair a doença, que ameaçava a vida de cada pessoa, de seus familiares, e de pessoas queridas. Continuamente presentes nesse contexto estiveram e estão asexigências de mudanças de comportamento e o afastamento do convívio social e afetivo. E nessa situação  de incertezas identifica-se ainda a presença constante do medo de adoecer e de enfrentar   o adoecimento de familiares e amigos, de vivenciar as mortes de pessoas próximas sem ter sequer a possibilidade de vivenciar os tradicionais rituais de despedida, gerando consequências emocionais além daquelas que acompanham as perdas. 

Para enfrentartantassituações de estresse e adversidade, as pessoas têm necessitado reorganizar-se emocionalmente.  Resultante desse esforço, tem-se constatado uma grande diversidade de reações emocionais, certamentedecorrentes das características próprias de cada pessoa, de suas diferentes personalidades, histórias de vida, crenças e dos diferentes recursos psíquicos eestratégiaspara enfrentamentode crises. Consequentemente, observa-se que alguns grupos são mais vulneráveis ao impacto das tantas mudanças ocorridas, das imensas e diárias exigências presentes nos últimos meses, das inúmeras mudanças na vida cotidiana, mudanças que podem favorecer ou agravar o desenvolvimento do sofrimento psíquico. Sintomas de depressão, ansiedade, transtorno de pânico, insônia, irritabilidade, têm além de sintomas graves de estresse pós-traumático.Nesse contexto tão traumático e exigente a preocupação consigo mesmo e com familiares, amigos, pacientes tende a elevar a carga emocional, física, exigindo desempenho de muitos e desconhecidos papeis sociais, desencadeando ou agravando transtornos mentais ou doenças físicas.

 Todo esse quadro, desde o sofrimento psíquico, e até a ocorrência de sintomas psíquicosmais graves têm estado especialmente presentes entre os profissionais de saúde, que têm se dedicado ao atendimento do Covid-19.

A atuação desses profissionais nesse contexto tem se caracterizado por longas e exaustivas rotinas caracterizadas por horas extensas e intensas de trabalho, exposição à situações de risco de contaminação, medo de contaminar familiares, perda de pacientes, a despeito de todos os esforços e o contato com as famílias dessas pessoas, têm acarretado intenso cansaço físico e mental, sentimentos de solidão e desesperança, levando ao sofrimento físico e mentale ao agravamento desses quadros.

Diante dessa dura realidade,considera-se de vital importância o incentivo e desenvolvimento demedidas de cuidado que possam vir apreservar a integridade física e emocional deste grupo de trabalhadores nesse momento em que tão intensamente cuidam e precisam serem cuidados.

Algumas ações podem contribuir para concretizar esse apoio necessário: fortalecer e ampliar suas redes de  apoio família, amigos e colegas de trabalho, fortalecer laços afetivos, ainda que à distância; desenvolver e ampliar o autocuidado, procurando  manter rotinas de atividades físicas e alimentação; levar a  familiares informações bem fundamentadas em conhecimento científico e técnico de cuidado e prevenção; reconhecer sinais de estresse  e sofrimento intenso (irritação, ansiedade, perda de motivação, cansaço, tristeza) e, se necessário, procurar ajuda de familiares, amigos e colegas ou ajuda especializada.   Considera-se e recomenda-se que, neste momento, é vital estar atento aos sentimentos experimentados, compartilhando-os em ambiente seguro e acolhedor, como é importante olhar-se com cuidado e auto compaixão, identificando suas possibilidades e limites.

Cristiane Lara Mendes Chiloff é psicóloga, coordenadora dos cursos de Especialização e Gerente Multiprofissional do HCFMB