Saúde mental em evidência

Cresce o número de pessoas que procuram tratamento para transtornos mentais

Nos últimos anos, nunca se falou tanto em saúde mental. Os diagnósticos de  transtornos de ansiedade, depressivos ou o uso excessivo de álcool e drogas tiveram crescimento expressivo, e a busca por tratamento, principalmente por medicamentos, aumenta dia após dia nos serviços de saúde.

Em junho de 2022, a Organização Mundial da Saúde (OMS) divulgou sua maior revisão mundial sobre saúde mental desde a virada do século, o Relatório Mundial de Saúde Mental: Transformando a saúde mental para todos. O trabalho detalhado fornece um plano para governos, acadêmicos, profissionais de saúde, sociedade civil e outros com a ambição de apoiar o mundo na transformação da saúde mental.

Somente no primeiro ano da pandemia, as taxas de depressão e ansiedade subiram 25%, em um momento em que os escassos recursos de saúde estavam focados no combate ao vírus. De acordo com a OMS, o Brasil é um dos países mais depressivos e ansiosos do mundo.  Cerca de 5,8% da população sofre com a depressão e 9,3% possui problemas com ansiedade.

Dr. Fernando Pimentel
(Arquivo pessoal)

Segundo Dr. Fernando Pimentel, psiquiatra e Diretor do Serviço de Atenção e Referência em Álcool e Drogas (SARAD), unidade parte do Complexo do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Botucatu (HCFMB), ansiedade e depressão nem sempre andam juntas. “Os sintomas podem ocorrer na vigência de diversos transtornos mentais. Entre as duas, não é diferente. É comum que pessoas que sofram de transtorno de ansiedade generalizada ou de outro transtorno ansioso, como síndrome do pânico, ansiedade social e fobias, por exemplo, venham a apresentar um episódio depressivo se o transtorno de base não for tratado”, afirma.

As causas podem ser as mais diversas: desde a propensão genética, passando por traumas e estresse durante a vida, até questões relacionadas ao momento atual ou estilo de vida.

“Procurar tratamento para os transtornos mentais é essencial. A boa saúde mental se traduz em boa saúde física. Os vínculos indissolúveis entre saúde mental e saúde pública, direitos humanos e desenvolvimento socioeconômico significam que a transformação de políticas e práticas em saúde mental pode trazer benefícios reais e substantivos para pessoas, comunidades e países em todos os lugares”, diz o relatório da OMS.

Ações simples que promovem bem-estar e atividade física podem não só prevenir, como também tratar os sintomas de transtornos mentais. “Meditação mindfulness, por exemplo, pode ser extremamente eficaz. Já a atividade física promove bem-estar em diversas esferas da vida, além de ter uma ação anti-inflamatória.  Além disso, podem ser bons métodos de tratamento concomitantes com a medicação em casos moderados a graves de diversos transtornos”, explica Pimentel.

Procurar tratamento é essencial (Foto: Divulgação)

Cada pessoa deve ser avaliada individualmente de acordo com seus sintomas e estilo de vida. “A grande maioria dos medicamentos atua nos receptores dos neurônios, inibindo-os ou ativando-os, de acordo com a sua finalidade. Isso gera uma alteração direta na transmissão dos impulsos pelos neurônios ou pode, indiretamente, estimular ou inibir a produção de proteínas pelo RNA desses neurônios. Essas proteínas podem ser constituintes de novos receptores e de neurotransmissores. Com a alteração desses receptores, há reorganização e adequação do funcionamento dos circuitos de neurônios que estavam funcionando de forma inadequada”, afirma.

O tratamento varia de acordo com o diagnóstico e com a gravidade do quadro. Em termos gerais, doenças moderadas a graves necessitam do uso de medicação, que será específica para cada doença. Nos quadros leves, a psicoterapia, medidas comportamentais e tratamento multidisciplinar são indicados, e têm dado bons resultados.

“Informar e aprofundar o valor e o compromisso que damos à saúde mental são ações imprescindíveis para garantir a conscientização deste problema tão atual, inspirando a tratamentos que levem benefícios reais para as pessoas”, finaliza Dr. Fernando.