Personagens HC: Fátima Barros, o “anjo de ouro” da Pediatria

Diariamente, a humanidade busca aproximar-se de quem está longe pelas conexões tecnológicas. Porém, a conexão entre os seres humanos que estão ao nosso lado não depende da existência de sinais de Internet ou de aparelhos específicos: a Personagem HC desta edição demonstra que a senha para iniciar este processo é a empatia.

Cleide de Fátima Massali de Barros na identidade; ou simplesmente Fátima, no coração dos pequenos pacientes e acompanhantes da Enfermaria de Pediatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Botucatu (HCFMB). Uma Técnica de Enfermagem que traz, em seu exemplo de superação, a certeza de que a empatia não é apenas uma teoria, mas é uma ação que vale ouro, a ser vivida todos os dias.

Desde setembro de 2013 no HCFMB, o atendimento assistencial pediátrico sempre fez parte da vida de Fátima na instituição. “Antes de entrar no Hospital, eu cuidava de idosos, tanto pessoal como profissionalmente, trabalhando em uma casa de repouso. Quando passei no concurso e vi que eu iria para a Pediatria, quase chorei de alegria, porque era uma área diferente e que me oferece grandes lições de vida. Pretendo me aposentar aqui na Pediatria, pois não me vejo em outro lugar”.

Fátima lembra, com carinho, do nome de cada paciente que ajudou a cuidar e, entre histórias com finais felizes ou não, o ponto em comum de todas elas é a dedicação em prol da vida. “São muitas crianças que passam por nós ao longo dos anos e é maravilhoso ver os pais indo embora com os filhos curados ou, pelo menos, com uma melhor qualidade de vida. Encontrar os pacientes recuperados pessoalmente ou pelas redes sociais é uma vitória não só para mim, mas para toda a equipe”.

Mas, assim como as conexões tecnológicas podem apresentar algumas dificuldades, a vida desta Técnica de Enfermagem também foi marcada por desafios, sendo o principal deles um câncer de mama, descoberto em 2018. “Fui diagnosticada em novembro e, no mês seguinte, comecei o tratamento com otimismo. Ao longo do tempo, quando eu desanimava, me lembrava de cada mãe que conheci na Pediatria e na garra que elas sempre demonstravam diante das dificuldades. As mensagens que elas me mandavam pela Internet também me deram força para seguir em frente”.

Depois de uma cirurgia e dos tratamentos quimioterápicos e radioterápicos, Fátima trocou novamente de conexão com o Hospital, ficando como acompanhante de uma tia durante a internação. “Tive a oportunidade de ter a visão de todos os lados, seja da profissional que sabe como funciona a Enfermaria, do tratamento dado à paciente e do auxílio à acompanhante. Assim, consegui entender que não sabemos o dia de amanhã e que podemos, rapidamente, passar de um papel de comando para outro mais vulnerável”.

Agora, o câncer não faz mais parte da vida de Fátima, mas o retrato de seus momentos de luta ajuda outras vidas a se reconectarem com o seu sentido. “Quando uma criança fica chateada por ver o cabelo caindo por conta do tratamento oncológico, mostro uma foto da minha quimioterapia e comparo com o meu cabelo atual, e isto traz mais tranqüilidade aos pequenos”.

Refletindo sobre sua trajetória de vida, Fátima enfatiza que estas situações vividas a transformaram em outra pessoa, que procura dar o seu melhor para todos que passarem por seu caminho. Para encerrar a matéria, ela deixa uma “dica de ouro” para aperfeiçoar a conexão entre as pessoas e gerar o verdadeiro significado da palavra “empatia”.

“No mundo de hoje, o que as pessoas querem é alguém que consiga tirar a dor e dar um consolo. Sabemos que não é fácil, mas vale a pena ser gentil, fazer a sua parte e se doar porque, quando trata a ferida do outro, você se cura também. Se você não consegue doar um pouco de amor e de bondade para os outros, é necessário questionar a sua existência na Terra. Para mim, empatia não é só se colocar na situação do outro, é fazer como se estivesse no lugar da pessoa, é ter uma ação concreta para ajudar o próximo e transformar, aos poucos, o mundo em que vivemos”, encerra.