O dia em que o zap parou

Henrique Balbi

O que você estava fazendo quando caiu o Facebook, levando junto Instagram e WhatsApp? Onde, com quem estava ao se dar conta de que suas mensagens enviadas ainda não tinham chegado? O que você pensou quando percebeu que o problema não era seu sinal, nem sua internet, nem qualquer uma das outras redes sociais que você talvez tenha, mas sim os servidores que lá da Califórnia funcionam sem parar – até que param?

Na melhor das hipóteses, você nem percebeu. Se ligando ou não nessas coisas de computador, você se ocupava de algo ou alguém que te absorvia por inteiro. Talvez um trabalho. Talvez um hobby. Talvez você tivesse companhia, que te contava uma história tão longa, tão engraçada, tão curiosa ou tão absorvente, que você nem viu o tempo passar. Pode ter achado estranho que o celular não apitava nem vibrava, o seu ou o da sua companhia, mas logo se distraiu e só ficou sabendo do apagão bem depois.

Ou então, você reparou sim que o Facebook não estava entrando; que o Instagram estava lento, até que caiu; que o WhatsApp estava silencioso demais. Quem sabe você não estava num momento de tédio, daqueles em que o dedo vai rolando a tela de modo automático, curtindo sem pensar, vendo sem ver? Você bem poderia estar esperando algum compromisso, e espiava o celular para o tempo passar mais rápido. Aí a pane derrubou as três redes do Mark Zuckerberg e você ficou preso a um telefone que não atualizava. Sentiu uma tontura? Um momento incerto, em aberto? A vertigem de não ter onde gastar esses minutinhos que, no fim do dia, se empilham em horas?

E se você estivesse no meio de uma conversa com alguém distante? Algum amigo, algum parente, alguém querido. O papo parou. Do nada. Talvez tenha batido uma ansiedade: “ué, por que não me responde? Será que falei alguma coisa que não devia?” E não, sua última mensagem era trivial. O silêncio se espessava, não vinha resposta alguma. Até saber da queda das redes, será que você pensou em telefonar? Você talvez tenha discado o número da pessoa, depois de considerar por um bom tempo se valia a pena ou não o peso e a formalidade da ligação. Mandar um zap era tão mais prático.

O pior cenário é se a queda das redes sociais tiverte afetado bastante.No bolso, por exemplo. Se você vende alguma coisa (um produto, um serviço, sua arte) e depende dos contatos do Facebook, da vitrine do Instagram, da agilidade do WhatsApp, você soube na hora que tinha alguma coisa errada. E o seu desespero? O ano já não tem sido fácil, a pandemia com certeza não ajudou, e ainda por cima essa. E agora, meu Deus?

Talvez, nessa sede de saber o que está acontecendo, você tenha visto as notícias: a queda das redes se refletiu na Bolsa; Mark Zuckerberg perdeu alguns bilhões nessa história. Será que você se identificou com ele? Não, provavelmente não – ele também perdeu grana, mas isso nem arranhou sua fortuna, que é muito mais dinheiro que qualquer um de nós vai ver em toda a vida (nossa, dos nossos filhos, dos nossos netos, dos nossos bisnetos…).

Pode ser que, com o bolso doído e a cabeça desorientada, alguma coisa tenha parecido estranha para você. Cai um sistema lá longe, literalmente do outro lado do mundo, e só por isso o seu negócio sai prejudicado. Dá um problema num servidor que você nem sabe onde fica, e por causa dele os seus conhecidos – que moram na mesma cidade que você – parecem distantes, quase inalcançáveis, exceto para quem tem paciência e crédito suficientes para telefonar de um em um. Não é esquisita essa dependência? Mas com quem você reclamaria? Tem alguém que não esteja na mesma situação, preso na mesma teia?

Não sei. Pode ser que nada disso tenha lhe ocorrido. Pode ser que, antes de virem ideias assim, o Facebook, o Instagram e o WhatsApp já tivessem voltado. Desfeita a pane, cancelado o breque, você talvez tenha sentido alívio. Alívio de voltar a curtir, postar, comentar, ouvir e mandar áudios, alívio de reaver seus grupos e páginas. Tudo normal de novo, como se a pane tivesse sido um susto. Um sonho. Como se não pudesse se repetir.

Henrique Balbi é jornalista e reúne comentários, resenhas, críticas e ensaios sobre literatura no blog Freio de Mão – clique para acessar