Uma conquista para Botucatu: a importância da segunda dose

André Spadaro

O estudo de efetividade da vacina da Astrazeneca/Oxford/FIOCRUZ no município de Botucatu representa uma grande conquista, fruto de relevante parceria entre a Prefeitura Municipal de Botucatu, a Faculdade de Medicina de Botucatu e toda a UNESP, o HCFMB, Universidade de Oxford, Fundação Gates, FIOCRUZ, CNPq e o Ministério da Saúde.

Em função do estudo, o município de Botucatu teve a oportunidade de atingir elevado percentual de cobertura vacinal contra a COVID-19 com a primeira dose, de forma antecipada, ainda no mês de maio. Atualmente, esta cobertura se encontra em 83,9% da população, o que representa tecnicamente uma cobertura completa da população adulta com a primeira dose.

Como consequência do estudo e desta expressiva parceria, assim como era previsto através de dados prévios na literatura científica, pudemos observar uma melhora significativa nos indicadores da pandemia no município. É importante recordar que a ação com a primeira dose foi iniciada no dia 16/05, período de aceleração da pandemia, que se estendeu ainda por mais 2 semanas, até ser atingido um pico de 988 casos novos por semana epidemiológica e 97 pacientes de Botucatu internados em leitos de enfermaria ou de UTI no início do mês de junho. No entanto, decorridas 3 semanas do início da vacinação em massa, prazo esperado para o adequado desenvolvimento da imunidade com a primeira dose, os resultados começaram a se confirmar. Desde o pico no início de junho, o número de casos confirmados por semana epidemiológica mostrou uma redução acima de 80%, o número de casos graves reduziu de modo expressivo, de forma a acarretar uma redução de 85% no número de pacientes de Botucatu hospitalizados por COVID-19, números que estão sob avaliação mais detalhada pelo grupo de pesquisadores para futura publicação em periódico científico.

Porém, desde o início do estudo de efetividade, o cenário epidemiológico vem sofrendo alterações em todo o mundo. A cepa variante delta, reconhecidamente mais transmissível, se tornou predominante em países como os EUA e o Reino Unido, entre outros, levando a novos aumentos no número de casos e de internações nestes países, a despeito de apresentarem uma cobertura vacinal mais avançada. Adicionalmente, a eficácia da primeira dose das principais vacinas empregadas para a COVID-19 é significativamente menor contra a cepa variante delta, sendo a segunda dose fundamental para que se atinjam níveis mais elevados de proteção contra essa variante do novo coronavírus. É sabido que a cepa variante já se encontra em circulação no país, sendo identificada em diferentes estados, inclusive no estado de SP. A cidade de São Paulo já possui transmissão comunitária da variante delta, sendo identificados 50 casos dentre as amostras analisadas.

Desta forma, é preciso considerar um cenário em nossa região de introdução da variante delta e, eventualmente, que esta cepa possa se tornar predominante. Portanto, conforme já mencionado, a administração da segunda dose, que permita se atingir coberturas elevadas de munícipes com o esquema vacinal completo, se torna de extrema importância e prioritária.

Nesse sentido, a Secretaria Municipal de Saúde de Botucatu faz os últimos preparativos para iniciar a administração em massa da segunda dose, a partir do dia 08/08. Neste domingo, mais de 66 mil pessoas, que receberam a primeira dose no dia 16/05, são esperadas para receber a segunda dose da vacina da Astrazeneca/Oxford/FIOCRUZ. Mais uma vez, o início das ações contará com a presença do ministro da Saúde Marcelo Queiroga, sinal inequívoco da relevância do estudo de efetividade em andamento em Botucatu.

Por fim, contamos novamente com a colaboração de toda a população, no sentido de se apresentarem de forma maciça neste domingo e nas demais ações de aplicação da segunda dose pertinentes ao estudo. A adesão elevada de todos pode possibilitar que o município atinja, ainda no mês de agosto, níveis de cobertura vacinal completa da ordem de 70 a 75%. Isto tem o potencial de desencadear o maior nível de proteção de nossa população, mesmo em um eventual cenário de disseminação da variante delta. Este é o principal objetivo e desafio no momento para o poder público e precisa ser uma prioridade de cada cidadão.

André Spadaro é Secretário Municipal de Saúde de Botucatu e médico cardiologista do HCFMB.